Serenidade

 
Tantas visões marcadas
para os olhos embotar...
e agora, enfim, transmutadas
na serenidade do olhar...
O desencontrar da vida
levando a um outro trilhar,
vai tornando adquirida
a serenidade no andar...
E quando a mente
à alma se une, num envolver,
chega, então, calmamente,
a sábia serenidade de viver!

Sombra

 Você que passa correndo...
sem nada ver... pela pressa da lida,
momentos únicos perdendo
e esquecendo da vida.
Sem sentir, por estar anoitecendo,
sem nem conhecer o amanhecer...
sombra somente a passar...
fascinado pelo ter,
esquecido da beleza de ser
e de sua estrada vivenciar!

Ao longe, ao luar - Fernando Pessoa

De onde vens?

De onde vens?
Do limbo dos sonhos perdidos?
Das lembranças, memórias guardadas?
Quem sabe dos elos idos
que já se fazem distantes
em imagens aquareladas?...
De onde vens?
Do fundo do eu esquecido
em uma gaveta fechado?
Da inocente criança
que vive no coração calado?
De onde vens?
De onde vens, saudade insana?...
se quando chegas, assim,
a dor do passado emana
e explode dentro de mim!

Quietude

Quietude estaciona no mundo
e torna a paisagem serena...
e transporta, por um segundo,
a alma, viva e plena,
para um universo perfeito
onde reside o profundo
na partícula de amor
escondida de tal jeito
que só se revela em flor
quando a luz emana do peito!

Um céu numa flor silvestre - Rubem Alves

Renascimento - Cruz e Souza

Parada cardíaca - Paulo Leminski

Razão de Ser - Paulo Leminski

O último poema - Manuel Bandeira

O coração - Cruz e Souza

Ninguém me habita - Thiago de Mello

Não discuto - Paulo Leminski

Modinha - Cecília Meireles

Mas, quando falo ... Cecília Meireles

Floresce - Cruz e Souza

Flor de Açucena - Thiago de Mello

Eu - Paulo Leminski

Desencontrários - Paulo Leminski

Coração confiante - Cruz e Souza

Concerto para corpo e alma - Rubem Alves

Cantiga para não morrer - Ferreira Gullar

Bem no fundo - Paulo Leminski

Atraso pontual - Paulo Leminski

Arte de amar - Manuel Bandeira

Aparição - Cruz e Souza

A palavra mágica - Carlos Drummond de Andrade

Análise - Fernando Pessoa

Amor bastante - Paulo Leminsk

Amor, então, também Acaba? - Paulo Leminsk

A mocidade - Olavo Bilac

Alma da Almas - Cruz e Souza

A estrela - Manuel Bandeira

Acordei Bemol - Paulo Leminsk

Acima da Verdade - Ricardo Reis

Começos

A luz do dia a clarear,
a natureza serena... o aviso:
novos começos no ar!
Prenúncios de um novo eu...
ou o mesmo, a se mostrar?
tudo diz, de improviso:
novos começos no ar!
Tudo, então, se transforma...
parece um novo lugar!
um novo planeta, talvez,
ou uma nova forma de olhar...
o importante é perceber:
novos começos no ar!

Sorriso guardado

 
Encontro, tão escondido,
teu rosto em álbuns antigos,
guardando, assim, teu sorriso...
pra nunca ser esquecido!
Quimera de tempos idos,
como a flor seca no chão...
caída lá do passado,
lembrança de um coração
que com o tempo,
também secou!

Entre estrelas

Sentidos elevam as nuances
e as cores que vimos fluir...
colocam estrelas no olhar,
num infinito colorir.
Perplexos, pasmos...
nos transportamos, num piscar,
para os horizontes infinitos
entre as estrelas do olhar!

Véus

Véus cobrem as verdades...
aquelas que não queremos ver.
E vivemos, assim, em metades,
num procurar sem querer!
E ao içar, todo véu,
deixa a descoberto o ser,
que, confuso, se perde ao léu...
num procurar sem ver!
E, plena, a verdade
toma forma, chega e invade
num ficar sem senão,
num encontrar da razão!

Trajetória

São tantas as trajetórias
em que a vida nos leva,
em que vivemos histórias...
E, dentre todas, aquela
em que, no meio da vida,
de forma inocente e singela
ao tocar sua mão na minha,
a luz, então, se descerra...
e a noite, comovida,
derrama estrelas na terra!

Saudade

Entre estrelas de um céu distante,
imagens fortes de um ido tempo,
mudando vidas neste instante,
semeando saudade com o vento!
Vidas vividas...
emoções tatuadas...
na alma lívida,
na mente turva;
gritos contidos,
palavras caladas...
uma crua lembrança em cada curva!

Desfecho

Lá fora, o frio inverno...
aqui, aconchego e calor...
a alma, em plena entrega,
se abre como uma flor.
Mas...
a porta um dia se abriu
e o frio, então, se instalou!
Lá fora, o quente verão...
aqui, o frio imperou...
a alma se recolhe em torpor
e um lacre fecha o coração!

Raio de sol

Entrou, sorrateiro, pela fresta da janela...
brincou como um menino
com a flor mais bela
que do vaso o olhava,
feliz, por acordar assim,
com sua luz singela!
Pequeno raio de sol...
alegria em luz contida,
iluminando a vida
trazendo seu arrebol...
e, sorrateiro... envolvente,
transforma em felicidade
o acordar da gente!

Tarde demais

Perdemos o rumo em nossa caminhada...
e quando, enfim,
quisemos nossas vidas em união...
em nosso olhar já não havia nada;
e a distância afastou seu coração...
Sentimos, num olhar,
que tudo o tínhamos a dizer...
já não cabia sequer falar!
Deixamos o tempo transcorrer,
e, assim como palavras na beira do mar,
num andar sem perceber,
se tornou tarde demais
para nosso amor concretizar!

Consciência

Quando o sol sobre o mar
se fizer incógnito
escondido nos químicos jogados no ar;
Quando dos pássaros o diário louvor
se fizer mudo
enterrado no desmate sem pudor;
O que será de nós, poetas?
Quando animais de formas mil
se fizerem em extinção
trocados por ganância vil;
O que será de nós, poetas?...
Cantaremos apenas a dor?...
Rimaremos, então, com o horror?...
Ah, o que será de nós, poetas,
quando a beleza se for?...

Flor

Beleza de forma e cor
cantada em mil poemas...
mas sempre instigando o ardor
de tantos e belos temas.Extensão do Divino Amor
em toda a Sua Excelência...
simple, doce, serena
como é a sua essência...
concretização do esplendor
da natureza e da vida,
cria da terra pungida...
tudo em uma flor!

Entrelinhas

Nem mesmo a estrela mais linda
nem o mais sublime luar...
a natureza de riqueza infinda
podem sequer se aproximar
da suave e perfeita beleza
que emana de sua alma...
revelada em extrema nobreza
transcodificada, com calma,
qual perturbante teorema
demonstrado em meio às palavras
de um delicada poema!

Saída

E eis que me acho aqui,
perdida no meio do nada,
sem saber de onde saí...
se tenho de ficar esquecida,
que seja em meio a palavras
das quais reconheço a vida...
E, navegando entre elas,
na pura expressão sentida
encontro, da minha desdita,
a mais sublime saída!

Inaudito

Insólito sentimento...
vestido de amor e graça,
chega até mim num piscar,
se aconchega... fica... 
e embaça todo o claro pensar.
Feito de intensa luz,
deixa tênue o luar...
como rápida estrela cadente,
traço de luz a correr,
quem sabe assim, somente,
possa, enfim, não sofrer!

Muros

Muros cercam seu mundo;
mundo que restringe a visão;
visão que tolhe o pensar profundo;
pensar que limita a ascensão;
ascensão que esbarra no muro, oriundo...
dos muros que cercam seu mundo!